sábado, 13 de julho de 2019

Correspondência

Na caixa de correspondência os boletos não paravam de chegar, ele desempregado  a meses, somente sua esposa a trabalhar.  Vivia de bicos, esporadicamente, já ela trampava com carteira assinada como secretaria, em um consultório, odontológico, nos dias de folga era trancista, "fazia a cabeça, de quem morava na  quebrada".
Diante da necessidade, nesses momentos de crises, abidcava do descanso merecido. Diariamente João entregava currículos mas até o momento não surgiu oportunidade, esses dias fez entrevista, mandaram aguardar.
Ele sentia-se  frágil de orgulho ferido como homem
ao ver Maria se desdobrando, para obter renda para família, mas todos os dias a ferida cicatrizava pois
 se orgulhava da mulher guerreira que tinha em casa.
Ele por sua vez fazia do sofrimento, do aperto e dos momentos de alegria, expressões sentimentais em forma de poesia, é verdade João tirava onda de escritor, esse dom e sua fé, o mantinha firme no caminho do bem. Mesmo com tantos contratempos, havia também algo especial que renovava sua esperança a cada dia, Eduarda a filha do casal
6 anos completos, estava aprendendo a ler, era por ela que João e Maria corriam, para que o básico não  faltasse e justamente por ela que João recusou alguns convites.
Mundo do crime!
Era sexta feira, Maria saiu apressada colocou sobre o rack, algumas cartas e partiu para o trabalho, João pegou a pasta com os currículos impressos deixou Eduarda na escola, e na volta pegaria sua filha, ficariam o período da tarde em casa. Chegando foi logo tomar um banho ligou a tv, no canal de  desenhos, Eduarda como sempre  curiosa, começou a ler a carta que estava por cima, na  pilha de correspondências:
" A-GE-CI-A DE EM-PE- GO...
VO-CE FO-I SE-LE-CI-O-NA-DO "
Quando João passava do banheiro para o quarto, ficou emocionado  ao ver , sua pequena ler.
De repente um estalo, foi conferir.
Sua filha lhe daria a notícia, tão esperada.
Era para que ele se dirigisse, na segunda-feira de manhã, passar na agência e em seguida encaminhar-se até o laboratório, para realizar os exames médicos.
Extremamente feliz, após se recompor, passou a mão no vale refeição de sua esposa, para fazer uma surpresa para a sua amada.
Foi até o mercado, para sua filha comprou sorvete e algumas coisinhas para a casa, resolveu extravasar...
Acabara com o limite do cartão para celebrar a vitória almejada e o progresso de Eduarda...
A ocasião merecia Chandon, mas ele levou Chuva de Prata.

Everaldo Magalhães









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